Vitórias e derrotas coletivas têm um poder extraordinário sobre o comportamento de uma sociedade. Quando o Brasil perde para a Argentina no futebol, não é apenas um jogo: é uma ferida no orgulho nacional. Basta observar o humor das pessoas nos dias seguintes à derrota: queda de produtividade, discussões nas redes sociais, tensão no ambiente de trabalho e aquele clima de ressaca emocional que paira no ar. Isso porque, em uma sociedade fortemente identificada com o futebol como ícone cultural, a experiência de uma derrota é compartilhada por milhões, criando um estado emocional coletivo.

Mas o contrário também é verdade. A conquista da Copa do Mundo de 1958 trouxe um sentimento de orgulho que reverberou nos anos seguintes. Já em 1994, a conquista da tão esperada quarta estrela coincidiu com o lançamento do Plano Real, que transformou a economia brasileira. Embora o plano não tenha sido resultado direto da conquista esportiva, o clima de confiança e esperança gerado pelo título ajudou a criar uma atmosfera propícia à aceitação popular das mudanças econômicas.

Esses fenômenos são explicados pela chamada emoção coletiva, conceito estudado pela psicologia social que mostra como eventos compartilhados podem influenciar o comportamento e o humor de grandes grupos. Segundo um estudo publicado na revista “Science”, eventos esportivos significativos têm impacto direto na saúde pública, inclusive em taxas de infartos e violência doméstica. Um estudo de 2013 na Universidade de Oxford mostrou que os batimentos cardíacos dos torcedores em jogos decisivos atingem níveis de estresse semelhantes aos de situações de risco real.

Mas não é só no futebol. Eventos como a eleição de um presidente, o lançamento de um programa social, a conquista de uma medalha olímpica ou o recebimento de um prêmio internacional também geram ondas de emoção coletiva. A eleição de Barack Obama, por exemplo, mobilizou emocionalmente não apenas os Estados Unidos, mas o mundo todo, representando um novo ciclo de esperança e inclusão. Já uma tragédia coletiva, como um desastre natural ou um acidente aéreo envolvendo muitos civis, pode provocar um sentimento de luto coletivo e impactar o consumo, o turismo e até indicadores de bem-estar.

O Instituto Gallup, que mede indicadores de bem-estar subjetivo globalmente, aponta que a percepção de felicidade e esperança é diretamente influenciada por eventos não apenas pessoais, mas também coletivos. Durante os Jogos Olímpicos do Rio 2016, por exemplo, o Brasil teve um salto nos índices de orgulho nacional e felicidade medidos pelas pesquisas locais.

Portanto, seja uma derrota no futebol, uma crise política ou uma conquista no esporte, os efeitos desses eventos transcendem o campo onde ocorrem. Eles mexem com nossa identidade, com nossa disposição para trabalhar, com nosso humor e com a maneira como enxergamos o futuro. São lembretes poderosos de que, mesmo em tempos de individualismo, ainda somos profundamente influenciados pelo coletivo.

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