Sabe aquele fluxograma bizarro, meio engraçado, meio trágico, que começa com a pergunta “A coisa funciona?” e termina com a genial conclusão: “Então não há problema”? Pois é. Ele não é só uma piada de internet. É quase um manual de conduta nas empresas, nos condomínios, nas famílias e, por que não, no governo.

Eu me recordo de ter isso a mais de 20 anos atrás em um arquivo de Porwer Point e usar em momento engraçados e críticos, mas é algo ultrapassado ou atual? A metodologia é simples e eficaz — para quem quer fugir da responsabilidade. Funciona assim: se a coisa está funcionando, não mexe. Se você mexeu e deu ruim, você é um idiota. Se ninguém viu, finja que nada aconteceu. Se vão descobrir, esconda. Se não tiver como escapar, encontre um culpado. E pronto! Problema resolvido. Ou melhor, varrido para debaixo do tapete corporativo.

Na vida pessoal, é aquele clássico: a torneira está pingando? Mas ainda dá pra usar? Então deixa assim. Um barulho no carro? Se não fez barulho hoje, deve ter resolvido sozinho. A criança com febre? Vamos esperar pra ver se melhora sozinha antes de pensar em médico. Afinal, a estratégia da omissão é tão reconfortante quanto inútil.

No mundo corporativo então, essa metodologia reina. Projeto com problema? Esconde. Sistema travando? Finja que é problema do usuário. Resultado ruim? Culpa do fornecedor, do clima, da pandemia, do eclipse. Time desmotivado? Ah, isso é mimimi de geração nova. Até que um dia a bomba estoura. Aí, começa a verdadeira ginástica organizacional: montar comitê pra investigar, criar um plano de ação que ninguém vai executar, mas que gera a sensação de que “algo está sendo feito”.

O problema dessa abordagem genial é que ela tem consequências reais. Vidas são impactadas, grana é desperdiçada, talentos se frustram e vão embora. A cultura do empurra-com-a-barriga cria ambientes tóxicos, onde quem levanta a mão para falar de um problema é visto como o chato, o negativo, o “difícil de lidar”.

E você, que insiste em apontar soluções, acaba virando aquele doido que é “obcecado por melhoria”, quando tudo que queria era simplesmente evitar a próxima catástrofe.

O mais curioso é que, para sobreviver nesse mundo regido por essa “metodologia”, é preciso desenvolver habilidades dignas de agentes secretos: saber se isentar com classe, terceirizar com sofisticação, e principalmente, dominar a arte de “não vi, não sei, não fui eu”.

Mas uma hora a conta chega. E quando ela chega, nem o melhor culpado do mundo salva. Porque a cultura de não resolução acumula atrasos, falhas, rupturas de confiança. E o que era um probleminha isolado se transforma em um colapso sistêmico.

Fica então a reflexão: você quer fazer parte do sistema que finge que resolve ou da minoria que encara o problema de frente, mesmo que isso signifique mexer naquilo que está funcionando — mas poderia funcionar melhor?

Porque no fim das contas, esconder não resolve. Culpar não resolve. Fingir muito menos. Resolver é resolver. O resto é fluxograma de desculpas.

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